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01/09/2015
A Igreja no Cárcere. Padre Augusti


Livro revela prisão no DOPS e conflitos com a Igreja e setores da Família Botucatuense. Veja algumas citações: Não adianta ser bom para a “sociedade” e não prestar para o povo!

Foto: Padre Augusti com dom Paulo Evaristo Arns.
 
João Fernando (debotuca.com)
 
No próximo dia 25 de setembro, no Centro cultural de Botucatu, será realizada uma cerimônia para lançamento da publicação do livro “A Igreja no Cárcere - Diário e reflexões de um sacerdote nos porões do Dops”, com os escritos do Padre José Eduardo Augusti (in memoriam). O conteúdo da publicação é uma  série de escritos ( reflexões, cartas, registros e constatações) na época de suas prisões no DOPS/SP e Presídio Tiradentes(anos 68-69-70). 
É um alento aos que defenderam e continuam defendendo a Justiça e um forte chamado à coerência com princípios de solidariedade e paz - e ele é lançado quando se lembra (e não se pode esquecer para nunca mais haver...) do 50º ano do golpe militar no Brasil.

Padre José Eduardo Augusti, nasceu em nove de julho de 1937, em Bragança Paulista. 
Seus pais, Albina Veloso Augusti e Antônio Augusti tiveram seis filhos, José Eduardo era o terceiro. Sua irmã mais velha, Maria Aparecida, tornou-se religiosa da Congregação de Santa Marcelina. Faleceu aos trinta anos na Itália em 1964, após ter sido uma das fundadoras da primeira casa da Congregação na Inglaterra.
 Maria do Carmo, a segunda filha do casal, faleceu aos 26 anos. Padre Augusti deixou outros três irmãos: Ignez, Antônio Emanuel e Maria Teresa.
 
Fez seu curso primário em São Manuel, onde moravam seus avós e seus pais se casaram e onde residiu de 1942 até 1948. Em 1948, sua família se mudou para Botucatu, devido ao seu pai ser gerente do Banco do Comércio e Indústria.
 
 Em 1950, com 12 anos, entrou para o Seminário Menor de Botucatu e em 1956, passou a cursar o Seminário Maior do Ipiranga em São Paulo.
 
Ordenou-se Sacerdote em oito de julho de 1962, na Catedral de Botucatu. Suas primeiras missas foram em São Manuel, dia 9 de julho e em Catanduva, dia 10 de julho, onde seus pais estavam residindo.
 
 Ainda em Botucatu, assumiu a Pastoral da Juventude num período turbulento, onde brigar pela justiça social era ser inimigo do governo. Nessa época, foi um dos lideres do movimento de resistência à designação de um Bispo para a Diocese, à revelia do Conselho de Presbíteros. Foi designado, então, vigário de Anhembi.
 
Em decorrência de sua ação pastoral foi preso arbitrariamente em 17 de julho de 1968, nas escadarias do Seminário Menor de Botucatu acusado de ter participado de um comício estudantil em São Paulo. 
Padre Augusti exercia suas atividades pastorais como defensor dos direitos humanos em Botucatu (SP). 
Em agosto daquele mesmo ano, foi libertado por meio de um habeas corpus. Foi indiciado pela Lei de Segurança Nacional e, em junho de 1969, condenado a um ano de prisão.
 De 1987 até sua morte, passou a priorizar o trabalho de 
valorização da Medicina Holística, como forma de restauração do organismo físico social. Fundou a Naturi- Vida, clínica de medicina natural holística, aonde veio a falecer em nove de março de 1997, vítima de enfarte agudo.
O cerne de suas ideias e compromissos com a liberação dos seres humanos, e a justiça social está registrado em fitas, vídeos e livros. Livros publicados: Vem Senhor Jesus, Pascália, Manual do Agente de Saúde, Vida Melhor (manuais 1, 2, 3, e 4), A dieta do padre e a Novíssima ou a Terceira Aliança.
 (Com colaboração do jornal O Debate).
 
Na apresentação do livro, seus irmãos Maria Teresa Augusti, Ignez Augusti Perez Bonilha e Antonio Emanuel Augusti relatam que perguntaram a ele, em duas situações diferentes, se o que ele tinha registrado nas prisões estava disponível para ser publicado.
Os irmãos sintetizaram assim a sua resposta:
“Registrei muitas reflexões, sim. Mas os diários só poderão ser publicados depois da minha morte. Faço ali muitas reflexões, críticas e denúncias contundentes... e eu não quero ser impedido de exercer meu ministério, o que aconteceu a alguns excluídos pela própria Igreja. Quero continuar sendo padre até morrer, vivendo minha missão e praticando o que acredito”.
 
Veja algumas citações no livro:
 
Padre Augusti definiu 1968 como o ano maldito, o ano do AI-5. (Em Botucatu, padres e estudantes atropelados) 
Para o Padre Augusti a Igreja de Botucatu foi degolada com o êxodo triste de quase trinta padres que deixaram Botucatu, episódio conhecido como “A revolta dos padres”.
 
O movimento estudantil da FCMBB é reprimido violentamente pela Força Pública.
 
Segundo Padre Augusti ele saiu de Botucatu machucado, mas deixou para trás amigos leais, ao lado de uma legião de covardes e traidores!
 
Os jornais noticiaram com destaque a minha prisão: “Preso em Botucatu Padre subversivo”...creio que puxaremos uma grande fila.
Ele havia convidado o prefeito para ser seu padrinho. A estas alturas deve estar arrependido. Imaginem o prefeito ao lado do altar e o padre ausente porque ele não sossegou enquanto não o viu preso.
A virtude para mim é a capacidade de descobrir no fundo, as razões do povo. Nenhum ditador é capaz disso!
Eu escutei à noite gritos de homens e mulheres que eu não sei se amanheceram!
Os cardeais, bispos e sacerdotes que se julgam acima da verdade, um dia serão soterrados debaixo dos pilares de uma Igreja que está sendo edificada com os braços dos pobres.
Eu estava pensando muito esta noite sobre o grande confronto dos padres e o velho arcebispo de Botucatu cujo orgulho impediu o diálogo dele conosco para indicar um sucessor confiável.
Uma Igreja autêntica nunca seria aceita por poderosos que se sustentam à custa do sangue e do sofrimento dos fracos.
O Vaticano parece que tem medo de nomear bispos corajosos.
Julgo que esta é uma fase importante da história da Igreja no Brasil. Daqui para frente haverá menos “vocações sacerdotais” e mais vocações para discípulos de Jesus, servidores do povo.
Não adianta ser bom para a “sociedade” e não prestar para o povo!
Pena que o velho arcebispo tenha se curvado tanto diante de homens tão indignos.
Quem ficou apenas com a imprensa, certamente terá tido uma ideia errada da crise.
Eles irão tentar tudo para não permitir que se firme em Botucatu a igreja ao lado do povo.
Ensaiamos as músicas. (Quase todas do Geraldo Vandré)
No fim da missa cantamos uma música do Chico Buarque com uma letra que nos comprometia muito.
Nós, como o povo, estamos curtidos em viver nos porões, com os donos sapateando em nossas cabeças.
No Dops a noite sempre é mais perigosa. É no meio dela que chegam companheiros novos, ou alguém é retirado para subir ao quarto andar onde está o pau de arara e a cadeira do dragão.
Para mim teria sido muito fácil não ser preso. Bastaria ter ouvido o conselho do governador (Abreu Sodré) para me retirar da cidade que eu seria preservado e não haveria o escândalo da prisão de um padre.
Se a igreja da América Latina não defender o povo de todas as opressões, ela será a maior traição no terceiro mundo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



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