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12/05/2016
A crônica do golpe anunciado 2 - Epílogo?


Por Valdemar Pinho

Artigo publicado no jornal Diário Botucatu em 13/05/2016

O Senado aprovou. Nenhuma surpresa. Pra quem se informou sobre os verdadeiros motivos por diversas fontes de informação, e não apenas pela mídia oficial do golpe, o desfecho da madrugada de quinta feira já era esperado.

Fica cada vez mais claro que as pedaladas foram o único pretexto encontrado pra tirar a Dilma. A maioria dos discursos pró impeachment no Senado apontaram pra outros motivos, desculpas pro golpe. É verdadeiro que a crise econômica que vivemos é muito séria. O lado “fake” é que esta crise tem várias causas e a Dilma não é responsável pela maioria delas. O Brasil se livrou da crise por muito tempo, graças a políticas anticíclicas do governo desde 2008. O Brasil cresceu enquanto o resto do mundo (com exceção da China) rolou ladeira abaixo. Até 2014 os indicadores brasileiros da economia e de inclusão social eram todos positivos. Parênteses: uma pessoa a favor do impeachment me dizia que “o PT acabou com este país desde o governo Lula”. Quando falei dos indicadores até 2014 ele ficou encolerizado e disse que eram “todos falsos, maquiados”...

A crise mundial durou muito mais do que a previsão dos economistas, as importações de produtos brasileiros diminuíram e o preço das “commodities” despencou. Culpa da Dilma? Não! Isso atingiu todos os países emergentes que exportavam “commodities”.

Dilma resolveu reduzir impostos sobre várias cadeias de produção importantes, para manter a produção e o consumo, e aí errou. As indústrias mantiveram a produção por um tempo, mas não houve novos investimentos. E o resultado foi uma queda brutal da arrecadação do governo, resultando em déficit fiscal importante e aumento da inflação. E na consequente queda de confiança no governo. Mas isso não é motivo legal para impeachment.

Mesmo com queda de arrecadação Dilma manteve (e até aumentou um pouco) os programas sociais, reduzindo os recursos para pagamento da dívida com os “mercados”. Erro? Segundo os “mercados”, sim. Eu creio que não. Aqui precisaríamos entrar na discussão sobre o papel do Estado num país com uma das maiores diferenças de renda do mundo, mas, por falta de espaço, deixo esse tema pra futuras colunas.

Dilma errou ao não negociar competentemente com o Congresso. Será? A partir de sua posse e da eleição do Eduardo Cunha pra Presidência da Câmara o golpe já estava em andamento. Cid Gomes desvendou a qualidade do Congresso quando disse  “As coisas são assim. Tem lá uns 400 deputados, 300 deputados que quanto pior melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais, aprovarem as emendas impositivas, para quem possa… é uma guerra, é uma guerra…” Como negociar com esse tipo de político sem ficar refém da chantagem? É verdade que Dilma não é boa pra negociar. Mas isso também não é motivo legal para impeachment.

A escolha de Lula para a condução política do governo sofreu um ataque jurídico-midiático violento, pelo temor dos condutores do golpe de que Lula conseguisse convencer alguns deputados a votar contra o impeachment. Sérgio Moro manda conduzir coercitivamente Lula sem intimação prévia, o que é ilegal. Como ilegal foi o vazamento prévio para a imprensa golpista montar um circo pra desmoralizar Lula. O tiro saiu pela culatra, a partir daí as manifestações contra o golpe cresceram muito. Como se não bastasse, Moro grava conversa com a Presidenta da República e divulga para a mesma imprensa golpista fazer o carnaval. E não há nada nessa gravação que comprometa, mas no circo midiático destaca-se que o Lula “falou palavrões” (que horror!!!) Um juiz da cidade de Assis proíbe Lula de assumir o ministério!! E Gilmar Mendes, um representante partidário no STF, sacramenta.

Hoje acompanhei as notícias na Globo News, como faço de vez em quando. Pela primeira vez, uma cobertura mais equilibrada. A etapa do golpe prevista no roteiro estava cumprida e, por hoje, não era mais necessário destilar o ódio.

 

Valdemar Pinho é médico e ex vice-prefeito de Botucatu




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