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03/06/2016
Fundamentos da direita e da esquerda


Por Valdemar Pinho

Artigo publicado no jornal Diário Botucatu de 03/06/2016

Creio que será útil tentar esquematizar as diferenças entre as duas concepções, mesmo o espaço restringindo o aprofundamento, para irmos além dos xingamentos entre “coxinhas” e “comunistas”.

A direita e a esquerda têm formulações “científicas” que as justificam, mas os posicionamentos baseiam-se também em crenças. Diferenciam-se pelos projetos e prioridades que defendem para a organização da sociedade. A classe social e os interesses econômicos são fundamentais para determinar a opção política, mas não são exclusivos. Há muitos que se posicionam em oposição aos seus interesses objetivos.

Bastante esclarecedores são os artigos de Fernando Nogueira Costa, onde o autor, comentando o livro “Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política”, de Norberto Bobbio, expõe suas idéias e segue-se um debate com vários participantes de direita e esquerda. Tempos depois o autor complementou suas reflexões com um texto sobre individualismo e liberalismo. Vale a pena lê-los (endereços abaixo) para maior aprofundamento.

Direita e Esquerda: razões e significados de uma distinção política

Sobre o Individualismo e o Liberalismo

Primeiramente, é bom ficar claro que as posições nem sempre são exclusivas. Muitas pessoas (a maioria?) tem posições de esquerda num tema e de direita em outro. E há muitas direitas e muitas esquerdas, com divergências entre si. Mas, é possível definir algumas características de cada um dos campos.

A principal característica da direita é a crença no individual se sobrepondo ao coletivo. Na economia sua manifestação é o liberalismo, hoje o neoliberalismo, que defende o “Estado mínimo”, que não deve intervir na economia. Esta se auto-regularia através da “mão invisível” do mercado. A competitividade é o motor da história e seu fundamento é a “meritocracia”. O resultado são as diferenças sociais, que são “naturais” e não elimináveis. Conceitos de Darwin sobre “leis” da natureza foram adaptados para as relações na sociedade. Por esses conceitos, os mais “fortes” (ou capazes ou eficientes ou inteligentes ou...) vencem e tem acesso a privilégios e riqueza. Aos mais “fracos” só resta o papel de “perdedor” e se contentar com a sobrevivência. E isso é correto, pois produto de méritos individuais. O individualismo é um conceito político, moral e social que exprime a afirmação e a liberdade do indivíduo frente a um grupo, à sociedade e ao Estado” baseado na crença de “que o Homem tudo poderia, desde que tivesse vontade, talento e capacidade de ação individual.”

O Darwinismo Social está desacreditado no meio científico, mas é frequente vermos seus conceitos usados para justificar as resistências ao Bolsa Família, às cotas nas universidades públicas, ao uso dos impostos para subsídios aos mais pobres, como no Minha Casa, Minha Vida, Prouni, Fies etc. São políticas sistemáticas do Estado intervindo em favor dos “perdedores”, o que só poderia ser aceito como exceção. Nas redes sociais e nas conversas isso é atacado pelos de direita como “auxílio a vagabundos”, esmola etc. Adam Smith, teórico do liberalismo clássico, disse que “è injusto que toda a sociedade contribua para custear uma despesa cujo benefício vai para apenas uma parte dessa sociedade”. Essa afirmação foi feita originalmente para combater a lógica da sociedade feudal, mas pode sintetizar essas posições de direita.

Em oposição a essas concepções a esquerda argumenta que a organização social não se rege, e nem pode, pelas leis da natureza, pois “a condição humana é fundada pela negação da herança natural”. “A sociedade se desenvolve, opondo-se às forças cegas da natureza”. Não nega as competências individuais, mas afirma que elas são formadas e desenvolvidas em contextos sociais historicamente construídos, que criam condições desiguais entre as classes sociais. Os que já têm privilégios e riqueza tem uma enorme vantagem na competição social. Para a esquerda, características individuais não podem justificar as enormes diferenças socioeconômicas, como vemos no Brasil e no mundo. Contrapõe a solidariedade à lógica da competição, tendo o Estado função de proteção social buscando eliminar as desigualdades econômicas e políticas na sociedade ou, ao menos, diminuí-las.  Também faz parte do ideário da esquerda a defesa dos direitos humanos de indivíduos e minorias discriminadas, “contra a usurpação por um Estado, uma mídia ou uma opinião pública avassaladores, inclusive que tentam pressionar a Justiça a favor de seus interesses”.

Há muitas outras características, sem espaço para análise aqui. Mas, só a compreensão da lógica do “outro” pode permitir um diálogo civilizado, tão difícil nos dias de hoje.

 

Pinho é médico e ex vice-prefeito de Botucatu




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