A corrupção é um mal que precisa ser combatido com seriedade e vigor e os envolvidos, depois de serem julgados e condenados devem ser punidos com rigor, ela deve ser investigada nos poderes executivo e legislativo, mas também no judiciário, porque não? Também devem ser combatidas as pequenas corrupções (existem pequenas?) que acontecem no dia a dia, o relógio do ponto que eu burlei, o gato que fiz do vizinho, a cerveja que paguei para o guarda, a cola na hora da prova... é preciso acabar com a cultura da facilidade, com a cultura da corrupção.
Porém o que está acontecendo no Brasil é uma midiatização do combate a corrupção e a espetacularização política das ações policiais, cada ação da Polícia Federal é batizada com um nome e um herói e o mais grave esta acontecendo a partidarização das instituições brasileiras, como o Judiciário, a Polícia Federal, o Tribunal de Contas, decisões são tomadas mais esperando os holofotes da mídia e o aplauso fácil do que a ponderação que se necessita ter.
Todo esse cenário vem trazendo problemas sérios para a economia nacional, num primeiro momento se destruiu todas as empreiteiras do país, não era possível punir as pessoas em vez de punir as empresas? O resultado é a paralisação na infraestrutura do país, já que as empresas estão proibidas de participarem de licitações e não conseguem financiamento nos bancos e o pior quem acaba pagando a conta disso tudo são os trabalhadores e as trabalhadoras, hoje temos uma taxa de desemprego que passa dos 12%, muito disso se deve a situação que ficaram as empresas depois das denúncias e as punições que foram aplicadas.
Agora surgiu mais um espetáculo da Polícia Federal, a operação “Carne Fraca”, que mexeu num ponto de estratégia nacional, que é a exportação de carne, e o Brasil é o maior produtor e exportador de carne do mundo, o que atrai a cobiça dos grandes países de primeiro mundo, a operação derrubou toda a cadeia produtiva do setor, e já num primeiro momento apos a divulgação, China, Chile e União Européia suspenderam a compra de carne brasileira, trazendo grandes prejuízos para a economia nacional.
Alguns especialistas afirmam que os argumentos da Polícia Federal são frágeis e que não é bem isso, mas quando uma notícia é divulgada é difícil que se consiga reverter uma situação, vejam o caso da Escola de Base de São Paulo em que até hoje os donos da escola sofrem por uma história que depois foi comprovada que era mentira.
E caso seja provado que houve uma precipitação da Polícia Federal, quem pagará por isso? Como recuperar o prestígio externo? Foram anos para conseguir colocar o Brasil no topo do comércio mundial de carne, e tudo é jogado fora por conta dessa ação duvidosa.
É preciso uma legislação específica de combate a corrupção sem que se comprometam as atividades econômicas; é preciso mais discrição nas operações da Polícia Federal, que se investigue e que se punam os culpados.
Ninguém é a favor da corrupção, muito menos que se tenha papelão na carne, o que não se pode é jogar a água com a criança junto, dá pra conciliar o combate a corrupção sem destruir a economia nacional.
Precisamos voltar a ter instituições serias e sólidas, sair dessa várzea que virou o país nos últimos tempos, e termos um grande projeto de união nacional, baseado na recuperação da economia com distribuição de renda.
Carlos Ramos, é vice presidente do PT Botucatu e Funcionário da FAMESP