Prof. Ricardo Galvão durante palestra no IBB-Igor Medeiros (via 4toques comunicação)
Em palestra no Instituto de Biociências da Unesp Botucatu, Prof. Ricardo Galvão falou sobre embates envolvendo o monitoramento de queimadas da Amazônia
O “velhinho do INPE”. Assim, com bom humor e muita serenidade, se apresentou o Prof. Ricardo Galvão em palestra, ocorrida no último dia 10, no Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu. O anfiteatro da unidade ficou completamente lotado (sem falar em outras centenas de pessoas que acompanharam a transmissão ao vivo pela internet - veja link abaixo). Tudo para ouvir o que o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tinha a dizer sobre o monitoramento dos biomas brasileiros, a relevância da instituição ao universo da ciência e pesquisa mundial, e os motivos que o levaram a ser exonerado recentemente do cargo de diretor do mesmo.
Galvão, que é docente do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), exaltou toda a estrutura e tecnologia presente no INPE, o pioneirismo na parte de monitoramento ambiental feito por satélites, a qualidade técnica e experiência dos profissionais que lá atuam, bem como a referência do instituto junto a outros países do mundo. Em especial à China, no qual o INPE há cerca de 30 anos mantém acordos de cooperação para o desenvolvimento de projetos na área de Ciências e Tecnologias Espaciais.
O cientista explica que os dados gerados pelo INPE são armazenados em sistemas abertos [sistemas PRODES e DETER], no qual o IBAMA tem acesso direto. Justamente para que este instituto possa antecipar suas ações, de forma estratégica, para coibir ações de desmatamento e outros crimes ambientais no Brasil. Segundo ele, 25% do desmatamento na Amazônia são em terras do governo. Principalmente direcionado para venda ilegal de madeira e grilagem.
“Os satélites do Inpe têm uma resolução de 60 metros e uma um faixa de varredura da Amazônia de mais de 860 km de extensão. Então para que precisamos de satélites com resolução de 2 metros quando vou ver um desmatamento de 35 hectares ? Afinal, o número de alertas é enorme. Em janeiro foram mais de 1.300 alertas e em julho, mais de 1.800. Mas não davam valor aos alertas. Acredito que não tinham a percepção da gravidade do problema”, argumenta.
Responder com Ciência
Para o ex-diretor do INPE, o maior equívoco de quase todos os governos no Brasil é o de ignorar os conhecimentos científicos para a tomada de decisões e o desenvolvimento de políticas públicas eficientes. Segundo ele, o País vive um momento de “obscurantismo” temeroso o qual precisa ser enfrentado pela sociedade.
“A Ciência não pertence à direita ou à esquerda. Não devemos deixar que nossas convicções políticas e ideológicas turvem nossos olhos quando estamos tratando de Ciência. Infelizmente o ignorante é soberbo. Por isso não podemos dar opiniões gratuitas ou responder de maneira superficial. Mas, sim, com Ciência. Não acredite em super heróis ou mitos”, enfatiza o professor, que se emocionou ao final da palestra ao ler um texto sobre a mobilização de Botucatu na Revolução Constitucionalista de 32, na qual teve participação importante de seu avô, Prof. Sylvio Galvão. “Aprendi com ele, a não fugir ao bom combate”, finaliza.