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OPINIÃO
08/07/2016
Padrões de manipulação da (in)formação da opinião. Por Valdemar Pinho


Quanto da opinião pública é, na verdade, resultado da opinião publicada? Nem todos são manipulados na formação de suas concepções, mas, quantos o são?

Vários autores têm sistematizado as estratégias de manipulação, como Noam Chomski, citado no artigo anterior desta coluna. Há vinte anos Perseu Abramo sistematizou padrões da manipulação utilizados pela mídia, que comprometem os seus pretensos princípios de “isenção, imparcialidade e equilíbrio”, e continuam em uso até hoje. “A relação entre a imprensa e a realidade é parecida com aquela entre um espelho deformado e um objeto que ele aparentemente reflete...” (http://marcozero.org/manual-para-ler-a-midia-em-tempos-sombrios-as-licoes-de-perseu-abramo/)

Não se trata de apenas apresentar uma notícia segundo seu viés ideológico. Isso é inevitável. O que se vê na grande mídia oligopolizada é a manipulação descarada, disfarçada por mecanismos que distorcem o sentido original da notícia, visando induzir a uma conclusão não autorizada pelos fatos. A percepção da imprensa internacional sobre a cobertura da imprensa brasileira no caso do impeachment foi sintetizada pela manchete do site de notícias francês RFI em 23/04/2016: “Le Monde admite ter ignorado parcialidade da mídia brasileira”.

Segundo Abramo, os padrões desvendados são os de Ocultação (de algumas notícias e ressaltar outras), Fragmentação e Descontextualização (decompor o fato em partes não conectadas, dificultando a visão do todo), Inversão (do conteúdo pela forma; do fato pela versão; da informação pela opinião; apresentar o secundário como principal e vice-versa) e Indução. Voltemos a Perseu Abramo, 20 anos atrás: “Submetido... sistemática e constantemente, aos demais padrões de manipulação, o leitor é induzido a ver o mundo não como ele é, mas sim como querem que ele o veja. A indução se manifesta pelo... que é dito sem ser falado..., das manchetes e das notícias, dos comentários, dos sons e das imagens, pela presença/ausência de temas… Depois de distorcida, retorcida e recriada ficcionalmente, a realidade é ainda assim dividida pela imprensa em realidade do campo do Bem e realidade do campo do Mal, e o leitor/telespectador é induzido a acreditar não só que seja assim, mas que assim será eternamente, sem possibilidade de mudança”. A dramatização de um “fato” com entonação e semblante de ódio, tristeza, desprezo ou indignação durante e após a leitura de uma notícia, induz o ouvinte/telespectador a não usar a racionalidade.

Os exemplos são inúmeros. As denúncias envolvendo petistas, ou empresas acusadas de algo que atinja o PT, são ressaltadas e repetidas à exaustão. E qualquer dessas denúncias é tratada como verdadeira, seguida de comentários indignados ou irônicos. Se a denúncia atingir alguém do PSDB aparece uma vez, como suspeita, sem comentários, sem caras, sem bocas...

Durante os governos do PT, sobretudo da Dilma, opiniões econômicas negativas ganharam ares de verdade absoluta, mesmo quando os indicadores não as confirmavam. “O noticiário negativo serviu frequentemente como pauta política para os agentes do capital financeiro (o tal ‘mercado’) e a oposição radical” (Marco Zero). Os ganhos sociais e econômicos eram sistematicamente apresentados como resultado natural da economia mundial, quando não acusados de manipulação do governo. Já os problemas de hoje não tem nada a ver com a crise mundial e os únicos responsáveis pelas mazelas foram os governos petistas.

Há outras estratégias de manipulação já estudadas, como a Estratégia da Distração, que é desviar a atenção dos assuntos que são mais relevantes através de informações irrelevantes, criando a suposição de que são cruciais e são provas de algo maior. A grande imprensa martelou durante semanas a notícia de que o então ministro do esporte, Orlando Silva, tinha comprado uma tapioca com o cartão corporativo. Escândalo!! Que importância isso tem? Quanto custou essa tapioca? Não vem ao caso... A mídia também “perdeu” várias semanas com os pedalinhos e o barco de R$ 4 mil reais existente no sítio frequentado por Lula, apresentados como “prova” de que Lula era o proprietário, escorada apenas na opinião de participantes da Lava-Jato. Vários vazamentos seletivos da Lava-Jato, de denúncias ainda a serem apuradas, alimentaram a construção de “fatos” que não passavam de versões, sem comprovação, insuflando sentimentos irracionais. Folha de São Paulo de 26/10/2015, primeira página no alto em 5 colunas :“Delator diz ter repassado R$ 2 mi para nora de Lula”. Depois foi confirmado pelo Ombudsman que era mentira.

Voltemos à análise de Perseu Abramo: “É evidente que os órgão de comunicação, e a indústria cultural de que fazem parte, estão submetidos à lógica econômica do capitalismo. Mas o capitalismo opera também com outra lógica, a lógica política, a lógica do poder, e é aí, provavelmente, que vamos encontrar a explicação da manipulação jornalística…”.

Segundo Francisco Fernandes Ladeira, “para que a mídia possa contemplar a pluralidade de idéias ou, como sugeriu Jürgen Habermas, aproximar-se de ser um mecanismo privilegiado da esfera pública que gere visibilidade para as demandas de diferentes grupos, é necessário que questões como a democratização dos meios de comunicação, restrição de propriedades cruzadas de veículos midiáticos, regulamentação da programação e o incentivo ao surgimento de rádios comunitárias sejam colocadas em pauta”. (http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-as-pessoas/).

Pinho é médico - Vice-prefeito de Botucatu por 2 mandatos

Artigo publicado no jornal Diário Botucatu - 08/07/2016




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