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OPINIÃO
15/07/2016
Internet e democratização da informação. Por Valdemar Pinho


Os jornais e revistas com abrangência nacional ou estadual estão concentrados nas mãos de poucas famílias e, com raríssimas exceções, têm e divulgam o mesmo pensamento único. O mesmo ocorre com as rádios e TV, que são concessões feitas pelo Congresso, sendo exclusividade de famílias de políticos ou “amigos”. Por esses meios não haverá pluralidade de idéias.

A internet permitiu a democratização de informações e a pluralidade de idéias numa escala gigantesca, diferentemente do que ocorre com as mídias “tradicionais” do pensamento único. Os internautas a acessam com múltiplos objetivos, principalmente para entretenimento, compras e navegar nas redes sociais. Neste artigo vou me ater exclusivamente às posições político-ideológicas que nela circulam e como se formam as opiniões político-culturais, presentes até mesmo na escolha de produtos de uma grife. No ambiente virtual temos sites, blogs, artigos e informações de todas as correntes de opinião e crenças, o que permite, teoricamente, pluralidade no acesso ao conhecimento. Fabuloso. Acabou a exclusividade de “alguns poucos editorialistas de jornais e colunistas famosos”? Eles também estão na internet, só que agora sem o monopólio da “verdade”. Ponto prá internet. Mas, a “verdade é que não queremos a opinião dos outros.” (Stephen Kanitz – O grande problema da internet e da democracia)

Todo mundo tem opinião sobre tudo, desde o que conhece profundamente até àquilo que desconhece profundamente. No entanto, o conhecimento não se constrói sem informação, vivência prática da vida e debate. A internet fornece diversidade de informações e possibilidade de debate de idéias. O que ocorre é que ela amplifica o que ocorre na sociedade, aqui sem os filtros necessários ao convívio social. O anonimato e a “proteção” atrás da tela dão a muitos a sensação de poder absoluto. Se não sabem o que dizer, adotam e repetem algum clichê que lhes pareça a “verdade absoluta”, sem precisar avançar na compreensão do seu significado. O que não podem é deixar de dar a sua opinião. E dá-lhe ódio e preconceito. No artigo http://radionajua.com.br/noticia/noticias/opiniao/comentarios-ofensivos-e-anonimos-na-internet-coragem-ou-covardia/34730/ há uma análise sobre postagens ofensivas por pessoas que usam o anonimato ou pseudônimos para postarem comentários “desairosos, às vezes de tão baixo nível a ponto de empregarem palavras de baixo calão, atacando pessoas, da forma mais despudorada possível...”, sentindo-se “dotados de muita coragem e, sobretudo astúcia, quando, na realidade, o adjetivo que melhor os defina, seja ‘covardes’”. Humberto Eco, em um dia em que devia estar com o humor ácido, disse que “as mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade... O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Por outro lado, há formulações que são bem fundamentadas e contribuem prá reflexão e disseminação de conhecimento.

Em http://www.cartacapital.com.br/cultura/agora-todo-mundo-tem-opiniao-7377.html) há algumas formulações que considero adequadas. O autor saúda a diversidade de opiniões como um ganho democrático, mas pondera sobre alguns problemas decorrentes.  “O problema da internet é que muita gente lê a enxurrada de bobagens não como opinião, mas como conhecimento. Platão, por exemplo, afirmava que opinião (doxa) era o falso conhecimento. O conhecimento verdadeiro (episteme) depende de estudo profundo, comprovação metódica, teste de validade. Essas coisas de que se vale em geral a ciência.” ... “O mal que há nessa ‘democratização’ dos veículos é que se formam crenças sem fundamento, mudam-se as opiniões das pessoas, afirmam-se absurdos em que muita pessoa ingênua acaba acreditando. Sim, porque estudar, comprovar metodicamente, testar a validade, tudo isso dá muito trabalho.”

No uso da internet criaram-se “tribos” que correm em raia própria. Nas questões políticas a imensa maioria dos que são de direita frequenta quase exclusivamente sites de direita e o mesmo ocorre na esquerda, inviabilizando a pluralidade de visões. O “filtro bolha” dos sites de busca do tipo Google Search “aprendem” com as suas buscas e na próxima te oferecem só os links do que “concorda com o seu perfil”, limitando a visão do contraditório em questões polêmicas, como política, religião, homossexualismo, direitos humanos etc. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirma que “A maioria das pessoas que usam computadores tentar criar para si uma zona de conforto, como uma câmara de eco, ou um corredor de espelhos, no qual a única coisa que você vê é a si mesmo. É algo que você não pode criar na rua. É simples, é só você parar de visitar sites que você não gosta. Na rua você não pode escapar do que não gosta”.

Então, não há saída? Estamos condenados a nos mantermos bitolados, mesmo com tantas opções disponíveis na internet? Para mim é claro que não, pois vemos um número de pessoas cada vez maior procurando se libertar dos dogmas (aquelas “verdades” que não precisam comprovação). Mas, para evoluirmos para uma sociedade mais justa, sustentável e fraterna é preciso uma revolução na cultura do ódio, pré-conceitos, egoísmo, oportunismo e outras mazelas. Até onde a pluralidade da informação e do conhecimento irá contribuir?

 

Pinho é médico. ex-vice-prefeito de Botucatu




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