Independentemente de quem será o próximo prefeito de Botucatu, uma coisa é certa: não há como governar pensando apenas no imediato, naquilo que eleitoralmente parecer mais viável. Algum tempo atrás dizíamos que precisávamos pensar na preservação e conservação do meio ambiente para garantir o futuro das próximas gerações. Esse futuro parecia distante, mas, com o passar dos anos, ele parece estar cada vez mais próximo.

A degradação ambiental provocada pelo uso incorreto das riquezas naturais tem trazido danos que estão latentes. Vide a questão da água ou da falta dela. É bem verdade que Botucatu foi abençoada por Deus nesse quesito, temos a bacia do rio Pardo e do Capivara para o abastecimento local e ainda, o privilégio de estarmos sob a área de recarga do Aquífero Guarani,o que também gera  responsabilidade para coibir a sua contaminação. Nós últimos anos, nossa situação também foi crítica e medidas drásticas tiveram de ser tomadas para garantir o abastecimento.

Para avançarmos com excelência na área ambiental, em todos os seus aspectos, é preciso que o prefeito tenha a humildade e o comprometimento, propositivo, para ouvir a comunidade técnico-científica visando o colhimento de propostas e, com isso, implementar as medidas sugeridas, inclusive as relacionadas à recuperação, preservação, conservação e valorização na nossa Cuesta, patrimônio geológico mundial e muito  significativo de Botucatu.

Uma das sugestões já apresentadas é a construção do Mapa da Geodiversidade. Esse mapa tem a função de apresentar o adequado mapeamento da geologia, da geografia, do solo, da vocação local, bem como dar as informações necessárias para a proteção do aquífero, do solo, das fontes e da promoção de um turismo sustentável e consciente.

Outra ação, já contemplada inclusive pelo Plano Diretor, é implantar o ZEPAM das Águas (área de proteção das águas), que garante proteção especialmente às cabeceiras do Rio Pardo e Rio Capivara, responsáveis pelo abastecimento em Botucatu. Estudos comprovam o necessário replantio de 1 milhão de mudas no alto da Cuesta. A Prefeitura precisa assumir o compromisso de um macrozoneamento que mantenha as unidades rurais nestas áreas de proteção, a fim de evitar a especulação imobiliária e a consequente degradação causada pela ocupação incorreta.

O Governo Municipal precisa trabalhar a vocação demonstrada pelos nossos agricultores e ampliar a política de promoção da agricultura orgânica. Botucatu tem cerca de 70% de suas hortaliças, frutas e legumes produzidos por agricultores locais (principalmente região de Santa Maria), mas nem todos são produtos orgânicos. Por que não oferecer um plano municipal de adesão com benefícios para quem focar neste tipo de produção? Temos de ir além e implantar uma política de segurança alimentar que proteja as áreas de abastecimento de água dos agrotóxicos e dos transgênicos.

O próximo prefeito precisa entender que coleta seletiva não é marketing, atuando energicamente para que de fato seja realidade, criando uma Política Municipal de Gestão do Resíduo Sólido, que envolve entre outras coisas a usina de reciclagem e o apoio à cooperativa de Agentes Ambientais
O lixo tem que ser parte da Política de geração de renda e de proteção ao meio ambiente. Outro ponto que não pode ser desprezado é a arborização do município, já que apenas 19% do espaço urbano é de área verde.

O novo prefeito não precisa ser um gênio, precisa ter sensibilidade e vontade política para seguir bons exemplos de outras cidades, como o IPTU Verde, que oferece incentivos fiscais para quem faz compostagem e produção de adubo com o lixo orgânico, para quem utiliza energia solar e faz captação de águas da chuva, para quem instala descarga econômica e combate a impermeabilização do solo utilizando menos cimento e mais verde.

Enfim, como diria Renato Russo, o futuro não é mais como era antigamente. Ele está logo ali e as ações precisam ser tomadas imediatamente se quisermos garantir já o nosso presente.

Érick Facioli

Jornalista, pós-graduado em Gestão de Cidades e mestrando em Saúde Coletiva